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A linguagem humana como fenômeno basilar no paradigma da automação:

  • serie2030company
  • 15 de abr. de 2024
  • 8 min de leitura

Atualizado: 19 de mai. de 2024

talvez os pressupostos bakhtinianos nunca tenham sido tão necessários

para a construção do pensamento crítico


No presente trabalho, irão ser apresentadas algumas reflexões alcançadas no período de pós doutoramento, realizado na Universidade Federal do Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul, entre 2023 e 2024. Período esse que representou, para mim, a oportunidade de colocar ema-linguagem-humana-como-fenômeno-basilar-no-paradigma-da-automação prática um processo empírico, de percepção e de reflexão sobre algumas das variáveis que configuram a arquitetônica do ensino superior, na área dos estudos da linguagem. Nele trabalhei com o acompanhamento do Professor Dr. Adail Ubirajara Sobral, a quem sou especialmente grata pelos ensinamentos em relação à prática docente e, fundamentalmente, a sua competência e habilidade de mediar conhecimento através do diálogo, assim como, no estabelecimento de processos de construção de conhecimento educativos legitimamente alteritários (Sobral e Giacomelli, 2017).


Esta proposta de estudo pós-doutoral tem como propósito implementar algumas práticas situadas no espaço físico da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e, a partir delas, promover a expansão de tais experiências para outros contextos, em relação aos estudos da linguagem. Com esse intuito, é apresentado um plano de trabalho que mobiliza os conceitos de língua, linguagem, texto, interação, cultura, convergência e sentido. Além disso, é apresentado o personagem Betweena Links: um avatar criado em workshops sobre linguagem, que hoje tem a função de sinalizar a fronteira de convergência das linguagens natural e virtual, assim como, evidenciar o caráter atemporal dos postulados bakhtinianos (para além das suas origens no século XX) por meio da facilitação e da multiplicação de posicionamentos valorativos, de bases axiológicas próprias dos agentes/ protagonistas de sua articulação nas falas. Isto é, as falas utilizadas para as gravações dos vídeos de Betweena Links têm suas bases ancoradas nas manifestações enunciativas produzidas durante as aulas/eventos, como as propostas no presente Projeto Piloto. Contudo, as produções enunciativas que emergem em cada aula/evento são únicas de cada público, oportunizadas em ambientes de uso de metodologias ativas, com abordagem colaborativa, de cooperação (co-working) com as áreas de Letras, Tecnologia da Informação e da Comunicação (TICs) e a da Inteligência Artificial (IA); áreas essas que requerem uma proatividade (que não está circunscrita na mídia ou tecnologia em si, mas depende da atitude crítica do sujeito que se coloca para além de um usuário). Em síntese, as atividades por ora ideadas têm o intuito de tornar visíveis e multiplicáveis alguns dos possíveis legados da Análise Dialógica do Discurso para a academia e para a vida em sociedade; e os estudos pretendidos visam superar as análises abstratas e descontextualizadas de língua(s), sob o viés dialógico-discursivo, a partir do pensamento de Mikhail Bakhtin (1993 [1920-1924]), 2006 [1979]), Volochínov (2017 [1929]) e Medviédev (2016 [1928]), uma vez que, entendemos que as demandas de atualização, quando elas são apontadas a partir do interesse ou da do processo de significação do público/protagonista, representam, axiologicamente, um ponto de partida produtivo para o desenvolvimento de um trabalho legítimo, de resiliência, assim como, entendemos que a articulação ordenada de todos as variáveis do Projeto Piloto permitirá mediar a revisão teórica e a aplicabilidade de conceitos em contexto pedagógico atual: significa a busca de caminhos de evolução para uma educação dialógica alteritária, para revigorar a reflexão sobre o fenômeno da linguagem natural em relações e contextos distintos, por vezes acometidos por distorções na comunicação.


Palavras - chave: língua linguagem educação dialógica alteritária cultura sentido


Introdução e justificativa

Na sociedade do século XXI, as formas de comunicação, definitivamente, mudaram. Com o advento das diversas modalidades tecnológicas, há fluidez nos vínculos sociais, há superficialidade nas conexões e, fundamentalmente, há uma tendência de uso de artefatos de conectividade e hiperconectividade que representam o modo humano de operar na evolução da primeira metade do século XXI. Paralelamente, podemos afirmar que esse modo de estar ON já constitui um fator da atual identidade em ambas realidades: natural e virtual. Nesse sentido, numa percepção análoga, observamos que, atualmente, a foto do Registro Geral está para o documento de identidade como o Avatar para o Universo Paralelo virtual; isto é, numa mesma relação de identibilidade ou em processo de deslocamento veloz nessa direção. Entretanto, pensamos que o fato de estar horas conectado não significa necessariamente estar em estado de presença cognitiva (Garcia Canclini, 2005), ou, nem mesmo, em condições de presença para estabelecer diálogos, nem mesmo estabelecer alguma conexão com os sentidos sociocomunicativos humanos que justifiquem o excesso de conectividade no patamar atual de toda e qualquer área de atuação.


Podemos destacar, nesses aspectos, a forma com a qual funcionam os cursos on-line, diferentemente daqueles cuja proposta é chamada de Ensino à Distância (EAD). Observe-se que, a proposta on-line irá proporcionar ao aluno a presença virtual do professor ou do palestrante, enfim, aquele que seja responsável pela mediação do curso, estabelecendo diálogos geralmente síncronos com os estudantes; já na proposta à distância, de forma geral, a aula estará gravada e ficará disponível em alguma plataforma que o estudante irá acessar em determinado momento que a ele/ela convir. O destaque nessa colocação é que, embora a aula on-line demande algum grau de foco e de atenção (pelo fato de demandar interação),

todos os participantes podem estar logados/ligados em outros espaços paralelos também e ao mesmo tempo, como, por exemplo, no WhatsApp, entre outros. (Quem nunca participou de dois seminários ao mesmo tempo ou, talvez, participou de um evento enquanto “precisou” responder, paralelamente, no WhatsApp?) Uma outra realidade similar mostra que, a contagem da quantidade de contatos é hoje dimensionada em números de milhares de seguidores no Instagram, estabelecendo-se, assim, uma dinâmica na qual seguir muitos perfis, ou mixar conteúdos e, até mesmo, remixar textos é o conjunto de práticas rotineiras que caracterizam o fluxo dito normal das práticas discursivas humanas situadas nos seus diversos campos de atuação. Entretanto, elas continuam sendo arquitetonicamente organizadas em gêneros discursivos, atribuíveis de sentido, significantes, significados e ressignificados, no estabelecimento da inter-relação humana (Bakhtin, 2003). e somente mediadas, hoje, por linguagens outras, contemporâneas.


Nesse cenário, o compromisso da Análise Dialógica do Discurso (ADD) está, também, voltado à ressignificação de suas ações pedagógicas, direcionando seus estudos para aquilo que os autores Sobral e Giacomelli defendem como educação dialógica alteritária. A saber, é uma educação que se constrói através da aquisição e do exercício de competências humanas, como a escuta alteritária, o pensamento crítico e o desenvolvimento das habilidades de escrita e leitura reflexivas, para o uso consciente das linguagens do século XXI. Destarte, a educação dialógica alteritária relaciona-se com a afirmativa de que “não há um único padrão de ensino nem um único padrão de aprendizagem, pois cada pessoa tem suas especificidades” (SOBRAL; GIACOMELLI, 2020) e, de maneira global, cada ser está atualmente inserido em mais de uma natureza de contexto social.


Inclusive, segundo a nossa interpretação de Jenkins (2009), é possível pensar o trabalho das Letras atrelado a uma cultura da convergência e participativa que é capaz de produzir sempre novas conexões. Aliás, é do nosso perfil entusiasta trilhar um dos caminhos mais promissores para o engajamento e a imersão de estudiosos das ciências da linguagem na cultura de automação; a fim de que os processos de automação aos quais nos referimos possam vir a formar um ecossistema pela soma das capacidades: aquela automatizada que opera sem a intervenção humana mais a curadoria humana que, no caso da Linguística Aplicada Crítica, é absolutamente necessária. Um exemplo comum é o RAP (Robotic Process Automation - Processo de Automação Robótica), que podem criar bots para inserção de dados em sistemas. Além de prevenir falhas como as de digitação, os RAPs são rápidos, sendo capazes de interagircom outros sistemas e softwares e produzir de maneira ininterrupta, porém as programações incluem a interação e a linguagem com humanos.


Por ora, a primeira fase de intervenção irá impactar o modo de vivenciar as aulas nos grupos de graduação, mestrado e cursos de extensão. Cada aula é projetada de forma articulada em atividades, que se constituem de atos/eventos (SOBRAL, 2019) os quais, por sua vez, constam da utilização de artefatos capazes de facilitar a produção de conhecimento, de significação e sentido em relação ao estudo e revisão de conceitos bakhtinianos, em interface com o ambiente virtual. Nesse contexto, o papel da persona(gem) Betweena é o da ressonância do processo de formação de conhecimentos sobre linguagem de natureza multidimensional, de unidade imagética de sentido de conexão, arquitetada responsável e responsivamente enquanto “objeto estético que materializa escolhas composicionais que resultam de posicionamentos axiológicos” (BRAIT et al, 2018) para transportar, na medida em que possa atravessar fronteiras de outros públicos e outros tipos de linguagens, posicionamentos e atos valorativos individuais e coletivos dos grupos de estudos da linguagem; isto é, para alcançar outros públicos que também procuram atuar em favor da propagação e popularização de mecanismos de produção de escrita e de leitura crítica, com intenção de contribuir na curadoria da parte da informação que se faz presente nas esferas das nossas atividades pedagógicas.


Em termos técnicos e metodológicos, Betweena é um protótipo que foi desenhado de forma colaborativa. Ela nasceu a partir de um processo de experimentação da abordagem do Design Thinking para educadores (GONZALES, 2016), com um grupo de professores de uma rede municipal de Ensino Fundamental e Médio, na região de fronteira do extremo Sul do país, em 2021. A sua configuração, que hoje está em formato 3D, é possível utilizá-la em ambiente de Metaverso (universo paralelo), emergindo do desenho em cartolina física e canetas de cor e representativo da cultura daquele lugar/momento. Por esse motivo, ela representa um tipo de pensamento que não é indiferente à leitura de mundo do outro, ao contrário disso, a representatividade de Betweena Links se relaciona com a consciência de que os outros existem e têm pontos de vista diferentes que devem ser valorizados, multiplicados e debatidos em igual grau de participação que outros eixos de produção acadêmica entre o Oiapoque e o Chuí, Brasil. Contudo, as práticas propostas pelo presente Projeto Piloto são multiplicáveis (conforme o calendário acadêmico das turmas) enquanto o conhecimento produzido, e os ganhos na produção de sentido de cada grupo são singulares e únicos a cada momento donde as práticas acontecem.


Para tanto, o fluxo de atuação dos grupos de Letras cuja meta principal é desenvolver a criticidade, entre várias das demandas esperadas do nosso contingente, deverá ser sequencial e espiralado. Isto é, que haverá um ponto/desenho de partida, construído "sob medida" com base no repertório discursivo emergente no primeiro encontro do Projeto Piloto; el poderá ser alcançado por meio de um aparato de intervenções na memória de curto prazo (MCP) e na memória do trabalho (MT), defendida por Baddeley (2012), que nutrem a sequencialidade dos encontros ao longo do semestre letivo. Nesse ponto, destaca-se aqui o processo de iteração por parte dos participantes: a alternância entre erros e acertos, que são favoráveis e constituintes de uma combinação de armazenamento e manipulação das informações teóricas e práticas. Dita figura, que é um produto complexo, se estabelece entre os atores das práticas de forma distinta daquela alcançada por meio de aulas unicamente teórico-expositivas. Trata-se, então, de um cenário no qual vários sistemas de linguagens coexistem e se disponibilizam para a parte da população que mobiliza o conhecimento sobre língua e linguagem e também para um público leigo, embora em condições desiguais, que deve ser atendido também pela Linguística Aplicada Crítica e a Análise do Discurso, em diálogo com outras áreas, para criar espaços de construção de acessos amigáveis, sustentáveis, inclusivos e formadores de indivíduos capazes de ser e de estar em forma consciente nas realidades local e global, natural e virtual, de um mesmo mundo.


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